Joseph Brown."
Leu a mensagem por duas vezes, concentrando-se em seguida na
esposa que o olhava, esperando uma reacção.
– Não
ligues. – Disse, calmamente. – Muito provavelmente é só alguém na brincadeira,
sem mais nada para fazer, que mandou uma mensagem apenas para se divertir. Há
quem não tenha nada de melhor para fazer.
– Achas?
Então olha bem para o remetente. Já viste quem enviou isso?
Miro
pressionou uma vez mais a tecla que fazia a mensagem deslizar até ao fim no
ecrã do telemóvel. Onde deveria aparecer a hora e o número que a tinha enviado,
piscava agora um nome, fazendo-o abrir e fechar os olhos por diversas vezes
para confirmar que estava a ler correctamente.
Mensagem recebida em 27-07-2007 às 12.04
Por Miro
Leu aquelas
duas linhas algumas vezes até que, finalmente, a esposa o acordou daquele
momentâneo transe.
– E então?
– Perguntou, tocando-lhe ao de leve nas mãos. – O que me dizes disso?
– O que
queres que te diga? Há poucas coisas que me apanham de surpresa mas, esta foi
uma delas.
– Pode
mesmo estar alguém atrapalhado, não achas?
– Bem… uma
coisa é certa: Alguém achou o meu telemóvel e, ou está a gozar comigo, ou está
mesmo em apuros.
– Foi
exactamente o que pensei.
– Vou
tentar uma coisa – disse Miro de repente, digitando nove números no telefone da
esposa e pressionando a tecla de chamada. Pouco depois, uma voz de senhora,
calma mas decidida, falava-lhe ao ouvido.
«Neste
momento não é possível aceder ao número que marcou. Por favor, tente mais
tarde.»
– E então?
– Perguntou Ofélia, ansiosa.
– Está
desligado.
– E o que
pensas fazer agora? Pode mesmo estar alguém ali preso.
Miro
manteve-se pensativo durante alguns segundos, tentando decidir a melhor maneira
de agir. Só podia fazer uma coisa, mas também podia preparar os ouvidos, pois a
mulher não ia gostar mesmo nada.
– Vamos ter
de voltar ao forte, mas antes tenho de fazer um telefonema.
– Para
quem?
– Tens de
compreender, amor, eu sei que te prometi passarmos estes dias juntos sem
tocarmos no meu trabalho, mas esta situação é diferente. – Olhou para a esposa que, por sua vez, já estava
a adivinhar onde a conversa ia parar. Como tantas vezes antes, Miro ia colocar
a Policia Judiciária à frente de tudo e, mais uma vez, a esperança de passarem
alguns dias só os dois, ficaria adiada.
– Pronto,
está bem. Faz o que tens a fazer. – Disse, com um misto de desilusão e
compreensão. – Eu também não iria conseguir aproveitar estes dias sem me sentir
um pouco culpada. Vais ligar para onde?
– Para a
central!
Com o telemóvel encostado ao
ouvido, Miro espera pacientemente que a central automática de chamadas o
transfira para um colega de serviço. Alguns segundos depois, uma voz masculina
ouve-se do outro lado da linha.
«Policia judiciária. Departamento
de Investigação Criminal de Leiria.»
– Fala Oldemiro Mendes, número de
identificação PX714/8. Preciso que entrem em contacto com uma equipa de resgate
e a enviem para a Ilha das Berlengas. Há indícios de uma criança presa na ilha,
perto ou por baixo do forte São João Baptista. Possibilidade de rapto.
«Aguarde um minuto em linha, por
favor.»
O telefone ficou em silêncio
cerca de quarenta segundos. Se seguissem o protocolo, estariam neste momento a
confirmar a sua identificação e a localizar a chamada.
Finalmente, uma outra voz fez-se
ouvir do outro lado.
«Então Mendes, nem no dia de
folga te esqueces de nós?»
Miro reconheceu imediatamente a
voz.
– Boa tarde, chefe. – Respondeu,
com alguma reverência. – Infelizmente, parece que o trabalho me persegue. Vou
resumir-lhe o que aconteceu para que o chefe possa resolver a melhor acção a
tomar.
Miro fez um breve relato do
acontecido, deixando o chefe do Departamento da Policia Judiciária de Leiria ao
corrente dos seus passos, desde que entrou no forte até à altura em que a
esposa leu a mensagem. Apenas um eventual “Hum…
hum…” de concordância se ouvia do outro lado.
«Qual era mesmo o nome do pai?» –
Perguntou o chefe, quando Miro terminou a sua narração.
– Joseph Brown.
«Certo! Eu vou entrar em contacto
com a polícia marítima e dar ordens para que uma equipa se encontre consigo na
ilha. Qual é o melhor local para pousar um helicóptero?»
– Em frente ao forte, há um
pátio. Encontro-me lá com a equipa de resgate dentro de…
«Trinta e cinco minutos.» –
Respondeu o chefe, depois de uma pausa de dois segundos e alguns toques no
teclado do computador. – «Entretanto, vou pessoalmente verificar no sistema se
há notícia de alguma criança desaparecida cujo pai tenha o nome de Joseph Brown.
Se houver novidades, ligo para este número e… – Fez uma pausa. – Avise a sua
esposa que este telefone vai ficar sob vigilância durante algum tempo, e com a
linha semi-segura. Tudo o que for dito através dele, vai passar pelo nosso sistema
primeiro.
– Certo!
– Ah… – Disse, antes de desligar.
– O seu também. Assim, caso haja mais alguma mensagem ou ligação através dele,
ficamos imediatamente a saber.
– O.K. – Assentiu Miro, concordando. – Se não precisa
de mais nada, vou preparar-me para ir ao encontro da equipa.
– Certo! Bom trabalho! – Foram as
três palavras, antes da ligação ser bruscamente cortada.
– Então? O que disseram eles? –
Perguntou Ofélia, que se mantivera em silêncio até então, tentando seguir a
conversa.
– Vão mandar uma equipa dentro de
meia hora. Eu vou encontrar-me com eles no forte. – Respondeu, preparando-se
para se levantar.
Ofélia foi mais rápida. Num
salto, passou para o lado dele e segurou-lhe a mão contra a mesa impedindo-o de
sair do lugar.
– Nem penses que vais sem mim! –
Disse-lhe com convicção, enquanto o fitava sem piscar.
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