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quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

A Ilha da Vergonha (008)

"Help me. I’m stock in here. Contact my father. 
Joseph Brown."
            Leu a mensagem por duas vezes, concentrando-se em seguida na esposa que o olhava, esperando uma reacção.
            – Não ligues. – Disse, calmamente. – Muito provavelmente é só alguém na brincadeira, sem mais nada para fazer, que mandou uma mensagem apenas para se divertir. Há quem não tenha nada de melhor para fazer.
            – Achas? Então olha bem para o remetente. Já viste quem enviou isso?
            Miro pressionou uma vez mais a tecla que fazia a mensagem deslizar até ao fim no ecrã do telemóvel. Onde deveria aparecer a hora e o número que a tinha enviado, piscava agora um nome, fazendo-o abrir e fechar os olhos por diversas vezes para confirmar que estava a ler correctamente.

                        Mensagem recebida em 27-07-2007 às 12.04
 Por Miro

            Leu aquelas duas linhas algumas vezes até que, finalmente, a esposa o acordou daquele momentâneo transe.
            – E então? – Perguntou, tocando-lhe ao de leve nas mãos. – O que me dizes disso?
            – O que queres que te diga? Há poucas coisas que me apanham de surpresa mas, esta foi uma delas.
            – Pode mesmo estar alguém atrapalhado, não achas?
            – Bem… uma coisa é certa: Alguém achou o meu telemóvel e, ou está a gozar comigo, ou está mesmo em apuros.
            – Foi exactamente o que pensei.
            – Vou tentar uma coisa – disse Miro de repente, digitando nove números no telefone da esposa e pressionando a tecla de chamada. Pouco depois, uma voz de senhora, calma mas decidida, falava-lhe ao ouvido.
            «Neste momento não é possível aceder ao número que marcou. Por favor, tente mais tarde.»
            – E então? – Perguntou Ofélia, ansiosa.
            – Está desligado.
            – E o que pensas fazer agora? Pode mesmo estar alguém ali preso.
            Miro manteve-se pensativo durante alguns segundos, tentando decidir a melhor maneira de agir. Só podia fazer uma coisa, mas também podia preparar os ouvidos, pois a mulher não ia gostar mesmo nada.
            – Vamos ter de voltar ao forte, mas antes tenho de fazer um telefonema.
            – Para quem?
            – Tens de compreender, amor, eu sei que te prometi passarmos estes dias juntos sem tocarmos no meu trabalho, mas esta situação é diferente. – Olhou para a esposa que, por sua vez, já estava a adivinhar onde a conversa ia parar. Como tantas vezes antes, Miro ia colocar a Policia Judiciária à frente de tudo e, mais uma vez, a esperança de passarem alguns dias só os dois, ficaria adiada.
            – Pronto, está bem. Faz o que tens a fazer. – Disse, com um misto de desilusão e compreensão. – Eu também não iria conseguir aproveitar estes dias sem me sentir um pouco culpada. Vais ligar para onde?
            – Para a central!
            
Com o telemóvel encostado ao ouvido, Miro espera pacientemente que a central automática de chamadas o transfira para um colega de serviço. Alguns segundos depois, uma voz masculina ouve-se do outro lado da linha.
«Policia judiciária. Departamento de Investigação Criminal de Leiria.»
– Fala Oldemiro Mendes, número de identificação PX714/8. Preciso que entrem em contacto com uma equipa de resgate e a enviem para a Ilha das Berlengas. Há indícios de uma criança presa na ilha, perto ou por baixo do forte São João Baptista. Possibilidade de rapto.
«Aguarde um minuto em linha, por favor.»
O telefone ficou em silêncio cerca de quarenta segundos. Se seguissem o protocolo, estariam neste momento a confirmar a sua identificação e a localizar a chamada.
Finalmente, uma outra voz fez-se ouvir do outro lado.
«Então Mendes, nem no dia de folga te esqueces de nós?»
Miro reconheceu imediatamente a voz.
– Boa tarde, chefe. – Respondeu, com alguma reverência. – Infelizmente, parece que o trabalho me persegue. Vou resumir-lhe o que aconteceu para que o chefe possa resolver a melhor acção a tomar.
Miro fez um breve relato do acontecido, deixando o chefe do Departamento da Policia Judiciária de Leiria ao corrente dos seus passos, desde que entrou no forte até à altura em que a esposa leu a mensagem. Apenas um eventual “Hum… hum…” de concordância se ouvia do outro lado.
«Qual era mesmo o nome do pai?» – Perguntou o chefe, quando Miro terminou a sua narração.
– Joseph Brown.
«Certo! Eu vou entrar em contacto com a polícia marítima e dar ordens para que uma equipa se encontre consigo na ilha. Qual é o melhor local para pousar um helicóptero?»
– Em frente ao forte, há um pátio. Encontro-me lá com a equipa de resgate dentro de…
«Trinta e cinco minutos.» – Respondeu o chefe, depois de uma pausa de dois segundos e alguns toques no teclado do computador. – «Entretanto, vou pessoalmente verificar no sistema se há notícia de alguma criança desaparecida cujo pai tenha o nome de Joseph Brown. Se houver novidades, ligo para este número e… – Fez uma pausa. – Avise a sua esposa que este telefone vai ficar sob vigilância durante algum tempo, e com a linha semi-segura. Tudo o que for dito através dele, vai passar pelo nosso sistema primeiro.
– Certo!
– Ah… – Disse, antes de desligar. – O seu também. Assim, caso haja mais alguma mensagem ou ligação através dele, ficamos imediatamente a saber.
– O.K.  – Assentiu Miro, concordando. – Se não precisa de mais nada, vou preparar-me para ir ao encontro da equipa.
– Certo! Bom trabalho! – Foram as três palavras, antes da ligação ser bruscamente cortada.
– Então? O que disseram eles? – Perguntou Ofélia, que se mantivera em silêncio até então, tentando seguir a conversa.
– Vão mandar uma equipa dentro de meia hora. Eu vou encontrar-me com eles no forte. – Respondeu, preparando-se para se levantar.
Ofélia foi mais rápida. Num salto, passou para o lado dele e segurou-lhe a mão contra a mesa impedindo-o de sair do lugar.
– Nem penses que vais sem mim! – Disse-lhe com convicção, enquanto o fitava sem piscar.

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