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domingo, 5 de fevereiro de 2017

“Entre a Chuva e um Beijo”


Não sabia o que me esperaria naquele final de tarde… Nem tu!

Algumas palavras, trocadas talvez a medo, deixavam adivinhar uma pequena parte do teu sorriso, mas por vezes, até o mais belo texto não passa apenas de uma linda história.

A aproximação da hora marcada fazia os ponteiros do relógio abrandarem a sua velocidade, correndo cada vez mais lentos, e nem o próprio sol teve forças para impedir a nuvens, negras e carregadas, de transformarem o dia em noite numa questão de minutos.

Começou a chover, e ainda não tinhas chegado!

A condensação já se fazia notar nos vidros quando, dois toques suaves na janela me prenderam a atenção para um rosto sorridente que fez por alguns instantes o próprio tempo parar.

«Posso entrar?» – Perguntaste.
«Claro!» – Respondi, sem conseguir conter um prazenteiro olhar, ao ver todos os meus sonhos estarem naquele momento a pedir permissão para se sentar a meu lado.

A chuva caía cada vez mais forte, e o carro depressa ultrapassou a curta distância que nos separava do café. Sentámo-nos numa mesa mais retirada, fugindo ao burburinho que os sete ou oito clientes faziam perante a repetição de um jogo de futebol.

O primeiro toque das nossas mãos, tornou nesse instante fúteis todas as palavras que se seguiram. Não existia mais nada naquele momento. Nem a chuva, nem o vento, nem as conversas que soavam distantes… apenas o calor da tua pele, e o teu sorriso.

O tempo passou a correr, e os compromissos marcados acabaram por falar mais alto. Tinha-mos de ir… Mas confesso que poderia ficar horas naquele lugar, tentando desvendar em silêncio todos os segredos que se escondiam por detrás da sinceridade do teu olhar.

Já no carro, voltámos ao local de partida. A chuva teimava em não parar, e alguns poucos transeuntes passavam apressados em busca de abrigo.

«Tens de ir!» – Afirmei, com pouca convicção.
«Pois tenho!» – Concordaste, sem no entanto fazeres qualquer tentativa para sair.

Os nossos olhos cruzaram-se, deixando adivinhar o pensamento como num livro aberto.

Um segundo… dez… vinte… Foi impossível resistir! O primeiro toque dos nossos lábios, surgiu tímido e deixou-nos com um sorriso, logo velado pela doçura de um segundo beijo. Um beijo quente e prolongado, protegido pelo temporal de qualquer olhar mais indiscreto.

O coração pulsava num ritmo cada vez mais alucinante e… parou de chover!
Desta vez não se podia adiar por mais tempo a despedida.
A minha voz soou, agora decidida:

«Vai..! Tens de ir..!»

E, enquanto renitente te afastavas, um último e silencioso adeus não conseguiu esconder uma promessa…

«Até amanhã..!»

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© H. Vicente Cândido
05-02-2015, Atouguia da Baleia

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