O mês passado abriu na minha rua um restaurante chinês. Embora sempre me tivesse interessado pela cultura oriental, a culinária chinesa nunca me despertou especial curiosidade.
Há duas semanas, encontrei à porta do meu prédio um cãozito pequeno e faminto que adoptei e que, carinhosamente lhe coloquei o nome de “Shop soy”. O pequeno rafeiro rapidamente se recompôs e, passados dois dias, já me seguia para todo o lado saltitando alegremente. Tornou-se a minha companhia imprescindível.
Hoje, quando cheguei a casa, o “Shop Soy” não me veio receber com os costumados pulos e lambidelas. Procurei por todo o lado sem o encontrar quando reparei na porta da varanda ligeiramente aberta. Eu moro no primeiro andar pelo que assumi que ele tivesse saltado e que, provavelmente, nunca mais o veria.
Saí para a rua e durante uma hora procurei pelo cachorro sem resultado. Já eram oito da noite quando voltei e, sem ter preparado nada para o jantar, lembrei-me do restaurante chinês. Ganhei coragem e entrei. Surpreendeu-me a simpatia da empregada, com o seu sotaque que me obrigava a apurar o ouvido para a entender mas sempre com um sorriso estampado no rosto. Indicou-me uma mesa e estendeu-me a lista. Escusado será dizer que, momentos de pois tive de a chamar para lhe pedir ajuda na minha escolha.
Com a paciência natural do povo oriental, ela começou a mostrar-me os habituais pratos de porco, pato, gambas, vaca… e finalmente apontou para o papel escrito á mão logo na primeira página. Ela explicou-me que era um prato especial que usualmente não serviam mas que era muito bom e eu deveria experimentar.
Olhei para o nome: Shop Soy de cão.
Bem… posso-vos dizer que, depois de dar um salto quase tombando a mesa, e correr em direcção à porta de saída com as duas mãos a tapar a boca tentando aguentar os restos do almoço que teimavam em saltar cá para fora, decidi naquele instante nunca mais entrar num restaurante chinês.
3 comentários:
Bom dia! Bela prosa. Bem escrita e dotada de bom-humor. Mas é isso mesmo: o choque cultural é algo surpreendente. Eu também não aprecio a culinária oriental. Contudo, sou um admirador daquela cultura, principalmente no quesito 'arte'. Gostei muito mesmo do seu texto. Voltarei para ler e comentar outros. Grande abraço!
Espero que este conto (muito bem elaborado) seja a brincar... pela saúde do cão e dos que comem a comida chinesa...
Abraço
PS. (Por acaso não sou apreciador da comida chinesa)
hehehe...! Coitado do pobre "Shop Soy".
Posso garantir ao Paulo que à excepção do meu interesse pela cultura oriental, tudo o resto é apenas uma história.
Além disso, nada nos pode afirmar que o canito serviu como petisco culinário. Pode muito bem ter simplesmente fugido e agora se encontrar bem aconchegado no seio de uma simpática família. O "Shop Soy" de cão pode também ser apenas carne de vitela fatiada com legumes, cogumelos e rebentos de bambu!
Um abraço!
P.S. Por acaso gosto de comida chinesa mas, talvez seja porque ainda não me dediquei a tentar descobrir todos os ingredientes que leva.
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