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sexta-feira, 18 de maio de 2007

Poemas I - O Pescador

Natural de Peniche e residente numa aldeia deste mesmo conselho, eu não podia deixar de iniciar este Blog com um poema dedicado aos incansáveis pescadores desta terra que, dia após dia enfrentam as forças da natureza navegando por um mar onde já tantos pereceram.


Peniche,
onde o mar reflecte o olhar
de um pescador aflito. Triste,
de olhos em riste
sobre um amargo maço
de notas na mão
que mal chega para as despesas:
O carro, a casa, a luz
e o pão?
Fica para a próxima!
Hoje, os três filhos e a mulher
comem do que houver.
Os restos de um jantar
sobre as luzes da ribalta
mas, o vinho…
Esse não falta.
E no fim-de-semana que se aproxima
conta-se o resto dos tostões
sem ligar às consequências,
pois há que manter as aparências.
Preparam-se para a diversão
com a família, os tios, a prima
e o pão?
Fica outra vez para trás.
Se para mostrar que é capaz
de sustentar a família,
mês a mês,
ano após ano,
passa para segundo plano
comida farta na mesa
pois é melhor, com certeza,
mostrar a todos que está bem
do que sofrer do vizinho
aquele olhar de desdém.
E os filhos apontados,
eles e outros tais
como reles marginais,
sempre fingindo estar bem.
E a mãe?
Ajudando no que pode
por migalhas, vai à luta
e é chamada de puta
se o marido não está,
pois é vista aqui e além
esquecida de fingir
que não consegue dormir
e que a comida na mesa
não e mais uma certeza.
Com o suor de sua mão
finalmente, trás o pão
para uma casa singela
onde a mentira se esvai.
E naquele simples lar
como outros a seu redor,
no final, todos se abraçam
e o mais novo filho agradece
por ter um pai pescador.


H. Vicente Cândido, 24-09-2006

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