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sábado, 26 de maio de 2007

Contos - "Lasciva e Sensual"


Ao longo do Blog (que espero durar muito tempo), vou publicar também alguns contos originais, bem como outros, se possível devidamente indexados e que, pela sua natureza, mereçam ser postados aqui.
Podem também encontrar alguns dos meus textos, poemas e outras "Palavras", no site das Edições EC - Escrita Criativa, que estão desde já convidados a visitar.

Todos os meus contos são pura ficção mas... o que é a ficção senão uma história fictícia sobre a possível realidade de alguém?


      Sete horas da tarde.

      Sentado no banco de pedra sobre a falésia, observava as ondas enquanto esperava que o pôr-do-sol me trouxesse inspiração para mais um conto.
      Em pleno mês de Abril, o pouco movimento na Ilha do Baleal deixava o mar cantar a sua canção quase sem interrupções. Com o caderno de apontamentos a postos, aguardava.
      «Só mais uns minutinhos.» – Pensei.
      Foi então que uma mão tocou ao de leve no meu ombro numa carícia tão suave como uma brisa morna que quase não se sente.
      Virei-me.
      Atrás de mim uns olhos azuis e cristalinos reflectiam o amarelo avermelhado do sol que começava a pousar sobre o oceano. O meu espanto foi imediatamente ultrapassado pela beleza dos cabelos claros que esvoaçavam serenamente açoitando a face do anjo que sorria para mim.
      «Posso sentar-me?» – Disse.
      Sem conseguir falar, sinalizei-lhe que sim.
      Ela sentou-se mesmo ao meu lado deixando quase um metro de banco desocupado. Olhava-me com um misterioso sorriso, tal Mona Lisa enigmática e provocante.
      Quando, ao fim de alguns segundos de silêncio, finalmente consegui recuperar a voz e me preparava para perguntar-lhe o nome, um dedo indicador colou-se nos meus lábios e, a mesma mão que antes me tocara no ombro, afagava-me agora carinhosamente a perna esquerda.
      Um arrepio percorreu-me toda a coluna.
      Aquele dedo que me pressionava deliciosamente o lábio, aqueles olhos meigos cor do mar, aquela boca lasciva…
      Perdi a noção de tudo! Do sitio onde estava, das janelas que escondiam olhares indiscretos, do desconforto no banco de pedra. Tudo! O bloco de apontamentos voou pela falésia enquanto uma excitação que ultrapassava tudo o que tinha sentido até então se apoderava de mim.
      Tinha de possuí-la ali mesmo.
      Já não me interessava o nome, quem era, o que fazia ali… Beijei-a sofregamente e arranquei-lhe de um puxão a fina camisa de seda. Ela sorriu enquanto num só gesto, hábil e pensado, me desabotoou os as calças e me puxou pelo pescoço até eu conseguir sentir a sua respiração.
      «Vamos!» – Ouvi-a dizer num murmúrio enquanto sentia que me apertava cada vez mais o braço.
      «Vamos!» – Disse-me outra vez. Mas a dor era agora mais forte.
      Olhei para trás.
      Um braço peludo agarrava-me com força e uns olhos castanhos escondidos por baixo das sobrancelhas carregadas olhavam-me divertidos.
      «Vamos!» – Repetiu um homem com calças de pintor e uma barba negra, espessa, pingada com salpicos multicolores. – «É melhor acordar ou ainda se descuida e cai lá em baixo. Não interrompi nenhum sonho agradável, pois não?»
      Voltei à realidade e sorri.
      A canção calma das ondas tinha-me embalado ao ponto de adormecer mas, afinal a inspiração para o conto tinha chegado mais uma vez.




© Palavras (de H. Vicente Cândido)

2 comentários:

mestre disse...

oi, Vicente, gostei, não deixes de escrever que a fantasia e a imaginação te deixam inspirado para mais intento literários agradaveis como este. Parabéns!

Anónimo disse...

Ótimo conto. Continue assim sonhando. É bom e bonito.
Hiran, Brasil.