Os escassos centímetros que nos
separam, apenas aumentam a vontade de te sentir ainda mais perto.
Tento abster-me da tua
presença. Escutar o vento, que teima em açoitar as janelas neste final de tarde
onde o sol ainda se sente tímido para brilhar com todo o seu esplendor. Tento
focar-me no ecrã em minha frente que emite uma luz pálida, transformando-se numa
difusa neblina à medida que sinto cada vez mais próximo o calor do teu corpo. Tento
concentrar-me no trabalho que já há muito deveria estar concluído e, forço-me a
não olhar para ti, mas… O teu rosto toca-me ao de leve na tentativa de amenizar
o reflexo do vidro, espreitando por cima do meu ombro com um olhar cativante e
sedutor.
Pronto… Desisto… Não aguento
mais!
Esqueço o vento, o trabalho, o
local onde estou e, não resisto a procurar os teus lábios num apetite
incontrolável, sentindo nesse mesmo instante a retribuição escaldante que,
contra todas as previsões e convenções, nos impele para lá da loucura,
iniciando um fogo passível de ser extinto apenas pelo culminar de uma explosão
de prazer.
Entre o momento de um beijo e caricias
suaves por vezes descontroladas, os nossos corpos já desnudos entregam-se ao
desejo numa paixão ardente, ignorando o mundo e deixando o suor escorrer livre
e ofegante por todos os poros.
Palavras de amor erguem-se
baixinho, alternando entre outros sons, mais característicos do momento e quase
impossíveis de serem abafados… Mais alto… Cada vez mais alto… Num compasso sincronizado
que cresce exponencialmente até atingir um ritmo frenético e… Deixamo-nos cair
exaustos sobre as roupas que tinham misteriosamente ocupado todo o espaço do
pequeno escritório.
Ficámos ali, olhando-nos nos
olhos, juntinhos a sorrir sabe-se lá por quanto tempo até que, de soslaio, reparo
na mensagem que piscava no ecrã do computador. Levanto-me de um salto e,
incrédulo, não podia acreditar no que lia antes do sistema se desligar sozinho.
Um sinal de perigo com fundo
amarelo sinalizava o aviso em destaque sobre um fundo baço:
“ERRO! IMPOSSÍVEL GUARDAR DOCUMENTO.
O WINDOWS VAI ENCERRAR EM… 4… 3… 2… 1…”
“ – O que aconteceu?” –
Perguntou.
Sinto-me sorrir com a
resposta, antes mesmo de articular qualquer palavra:
“ – Sabes amor… Acho que vamos
ter de repetir tudo novamente.”