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sexta-feira, 1 de julho de 2016

"Reencontro"

arte por, Leonid Afremov

Cheguei, finalmente.
Os teus olhos recebem-me com o brilho característico da alegria e da saudade. A ânsia de um beijo proibido é parcamente atenuada por um cumprimento mais formal:
“Olá. Como estás?”
As nossas mãos tocam-se num gesto involuntário e a vontade de te arrastar pelo braço daquele local público e te guiar até à privacidade do quarto, acende-se em mim como um farol.
«Será que alguém percebeu?» – Penso para comigo.
Tento disfarçar, mas quando o meu olhar se cruza com o teu naquele instante que parece durar uma eternidade, não consigo conter um sorriso e sinto a inevitável cor rubra formar-se no rosto.

Estavas a pensar o mesmo… Não chegaríamos ao quarto!

O silêncio momentâneo e fictício, volta a dar lugar ao burburinho característico do café. Dirijo-me ao balcão depois de cumprimentar distraidamente os outros ocupantes da mesa, mas não resisto a passar a ponta dos dedos pelos teus cabelos numa caricia dissimulada.
A espera antes de ser atendido, contribui com o tempo necessário para controlar os pensamentos, mas o desejo… Esse aumenta a cada passo que dou na tua direcção.

A noite continua, entre conversas alegres, banais, e assuntos mais tristes. Opiniões são dadas… Comentários feitos… Os minutos transformam-se rapidamente em horas e, entretanto, está na hora de ir.

Não foi hoje, nem será amanhã. Talvez para a semana... ou talvez até nunca venha-mos a ter o prazer de saciar o fogo dessa paixão quase impossível, ateado nas labaredas de um primeiro olhar.
Mas… Eu nunca gostei da palavra “nunca”.

Levantamo-nos, e começa a sucessão de cumprimentos, agradecimentos e votos de boa viagem.
Tu ficas para o fim.
As palavras de despedida fluem num abraço informal mas, quando as nossas faces se tocam, é impossível resistir a trocar a suave caricia de um beijo.
“Um dia…” – dizes-me baixinho ao ouvido.
“Sim…” – respondo. – “Pena esse dia não ser já hoje.” 

 Os nossos braços separam-se, renitentes e, enquanto me afasto e deixo em voz alta um último “Boas noites”, adivinho o teu pensamento a proferir baixinho:
«Quero fazer amor contigo!»
Olho para trás…
«Eu também.»

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H. Vicente Cândido, 1 de Julho de 2015

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